Humano, Demasiado Humano
67. “Sancta Simplicitas“37 da virtude. – Toda virtude tem privilégios: por exemplo, o de levar seu próprio feixezinho de lenha para a fogueira do condenado.
(37) “sancta simplicitas“: “santa simplicidade” – expressão atribuída a Johann Hus, o sacerdote checo condenado por seu reformismo, ao ver uma velha senhora jogar um pouco de lenha na fogueira onde estava sendo queimado, em 1415.
530. Gênio tirânico. – Quando está vivo na alma um desejo invencível de se impor tiranicamente, e o fogo é constantemente animado, mesmo um pequeno talento (em políticos, artistas) torna-se aos poucos uma quase irresistível força natural.
566. Amor e ódio. – O amor e o ódio não são cegos, mas ofuscados pelo fogo que trazem consigo.
570. Sombras na chama. – A chama não é tão clara para si mesma quanto para aqueles que ilumina: assim também o sábio.
585. Pensamento mal-humorado. – Aos homens sucede o mesmo que aos montes de carvão na floresta. Apenas depois de terem queimado e carbonizado, como estes, os homens jovens se tornam úteis. Enquanto ardem e fumegam, são talvez mais interessantes, mas inúteis e freqüentemente incômodos. – De modo implacável, a humanidade emprega todo indivíduo como material para aquecer suas grandes máquinas: mas para que então as máquinas, se todos os indivíduos (ou seja, a humanidade) servem apenas para mantê-las? Máquinas que são um fim em si mesmas – será esta a umana commedia?
604. Preconceito a favor das pessoas frias. – Pessoas que rapidamente pegam fogo se esfriam depressa, sendo então de pouca confiança. Por isso as que são sempre frias, ou assim se comportam, têm a seu favor o preconceito de que são particularmente seguras e dignas de confiança: são confundidas com aquelas que pegam fogo lentamente e o conservam por muito tempo.
Os aforismos acima foram selecionados de Humano, Demasiado Humano: um livro para espíritos livres; tradução de Paulo César de Souza (2005). Título original: Menschliches, Allzumenschliches. Ein Buch für freie Geister (1878, 1886), Friedrich Wilhelm Nietzsche.
A instalação Humano, Demasiado Humano consiste em uma sala escura com uma caixa de fósforo na entrada da sala. Espera-se que o visitante pegue a caixa, entre na sala e risque o fósforo. O fósforo aceso desencadeia imediatamente a execução de um vídeo de um galho de madeira queimando projetado em uma das paredes da sala com o som amplificado.
Os materiais e técnicas utilizados nessa instalação são: caixa de fósforo, webcam, projetor e computador rodando GNU/Linux, Pure Data/GEM utilizando o objeto pix_blob para a detecção da luz do fósforo ao ser aceso.
O fluxograma da instalação pode ser baixado aqui: http//jarbasjacome.wordpress.com/downloads
A idéia da instalação surgiu em 2008 entre um encontro e outro com a artista plástica pernambucana Juliana Notari, com quem primeiramente falei da idéia que tive na época e a convidei para desenvolvê-la junto comigo, mas acabamos não tendo oportunidade de fazê-lo. Acabei retomando a idéia para desenvolvê-la durante uma oficina que fui convidado para mediar no Conexões Estéticas, idealizado pela Professora Walmeri Ribeiro do curso de Cinema e Audiovisual da UFC. O objetivo principal da oficina foi apresentar aos artistas residentes Camila Vieira, Emilly Gama, Luciana Vieira, Nathália Araújo, Shirley Martins e Tarcísio Rocha o software Pure Data/GEM, afim de que os mesmos pudessem depois desenvolver suas próprias instalações interativas. Além disso alguns deles, Luciana, Tarcísio, junto com a Luana Santos contribuiram para a gravação das imagens do fogo utilizada na instalação que também contou com a ajuda fundamental de Cesar Baio para operação da câmera e Shirley Martins para captação do som, assim como Walmeri Ribeiro, Fernanda Gomes que também estavam presentes e Jaime Vieira que cedeu a casa para a gravação do vídeo.
A gravação desse vídeo de demonstração da instalação foi feita durante a abertura da exposição Conexões Estéticas no Casa Alpendre (Rua José Avelino, 495 — Praia de Iracema — Fortaleza/CE) no dia 13 de dezembro de 2010.
A montagem da obra para esta exposição contou com a ajuda fundamental de César Baio, Tarcísio Rocha, Luciana Vieira, Luana Santos e Walmeri Ribeiro e Dino e Alexandre ambos do Alpendre.
dezembro 20, 2010 às 10:24 pm
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